Visto EB-2 NIW: Quando a Burocracia Enterra o Mérito

Wagner Schneider
By Wagner Schneider

Para centenas de brasileiros, o visto EB-2 NIW representa mais que um processo migratório — é um símbolo de reconhecimento internacional, um caminho para viver legalmente nos Estados Unidos com base em conquistas profissionais. A proposta parece simples: quem provar excelência e relevância nacional em sua área pode aplicar para o green card sem necessidade de oferta de emprego. Contudo, essa narrativa otimista esconde contradições graves que têm causado frustração, prejuízos e desilusão.

O advogado J.L., por exemplo, teve sua esperança interrompida por dois pareceres negativos, mesmo apresentando um dossiê robusto. O mais alarmante não foi a negativa em si, mas o fato de que a segunda decisão mencionava documentos inexistentes e erros evidentes no processo. A análise, ao que tudo indica, sequer foi feita com o cuidado mínimo esperado de um processo que define o futuro de uma pessoa.

E esse é o ponto crítico: os processos do EB-2 NIW são avaliados por oficiais administrativos do USCIS, que não necessariamente têm formação jurídica ou conhecimento técnico nas áreas dos candidatos. O julgamento, portanto, muitas vezes se dá com base em critérios subjetivos, o que gera decisões inconsistentes e, em muitos casos, injustas.

Mais grave ainda é a omissão de muitos advogados especializados em imigração, que evitam alertar seus clientes sobre essa imprevisibilidade. Em vez de uma orientação transparente, muitos preferem reforçar o sonho — muitas vezes com o objetivo de fechar contratos altos, que somam até US$ 40 mil com honorários, traduções e taxas. O resultado é um número crescente de brasileiros que investem tempo, dinheiro e expectativas em processos que, apesar de bem fundamentados, acabam sendo rejeitados sem justificativas coerentes.

As redes sociais e fóruns online estão repletos de histórias como a de J.L., com relatos de negativas inexplicáveis, frustrações profundas e perdas financeiras significativas. O problema não está no conceito do EB-2 NIW, mas na maneira como ele é aplicado e vendido: como uma certeza, quando na verdade está repleto de incertezas.

Ainda que o visto continue sendo uma alternativa válida, é essencial que os candidatos entendam os riscos envolvidos e exijam transparência de seus representantes legais. O mérito por si só nem sempre é suficiente. O processo depende também da sorte de cair nas mãos de um avaliador preparado — ou, ao menos, disposto a ler atentamente os documentos enviados.

O caso de J.L. não deve ser ignorado como uma exceção. Ele representa um alerta: o sonho americano, quando baseado em promessas mal explicadas, pode facilmente se tornar um pesadelo burocrático. Informação realista e decisões bem fundamentadas são o único caminho seguro diante de um sistema que, hoje, deixa muito a desejar.

Autor: Wagner Schneider

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